A Mentalidade Europeia Precisa de "Regredir"
A intervenção americana no Irão, à margem dos críticos e das tentativas falhadas de negociação europeias, esmagou o programa nuclear do Ayatollah. Na cimeira da NATO americanos exigem a europeus que levem a sério a questão da defesa e aumentem o seu investimento de forma significativa. Enquanto uns nunca se esqueceram que é pela força que se mantém a paz e se põe travão ao “mal”, outros parecem estar perdidos na sua bolha de segurança e prosperidade, ainda não perceberam que esse bem-estar não vem de graça nem é garantido, é preciso lutar por ele.
O mundo ocidental, com os E.U.A e a Europa à cabeça, é considerado desde o fim da segunda guerra mundial como o bastião da justiça internacional, da proteção e propagação dos direitos humanos e da ajuda ao desenvolvimento do terceiro mundo. Apesar de sempre terem existido críticos ao controlo que estas forças exercem a nível geopolítico, esta civilização ocidental conseguiu um feito inédito na história da humanidade. Foi possível criar e manter uma ordem de justiça internacional, guiada por valores humanistas, em que os países mais fortes não têm o direito de dominar os mais fracos, deixou de ser legítimo conquistar pela força. Nada semelhante tinha alguma vez acontecido até ao fim da segunda guerra mundial e à criação das Nações Unidas. E é crucial referir que só foi possível manter esta ordem devido à superioridade militar, tecnológica e científica, bem como ao poderio económico, de uma Europa cada vez mais unida e sobretudo de uma América como primeira potência mundial.
No entanto, se o progresso inicial pós-guerra representou uma mudança positiva sem precedentes, é na continuação do mesmo que um excessivo progressismo nos conduziu ao enorme problema que ameaça não só a prosperidade como a própria sobrevivência da Europa. Conseguimos um nível de conforto e estabilidade tal que nos esquecemos como funciona o resto do mundo fora de portas. Os mesmos direitos humanos, justiça e paz que damos como garantidos estão muito longe de serem prioridades em muitos países por este mundo fora. E eis que surge a mais desastrosa ideia que se alojou na nossa consciência coletiva: a noção de que quem defende “o que está certo” vencerá, como nos filmes, que o bem levará sempre a melhor sobre o “mal”. Este wishfulthinking não podia estar mais longe da realidade. A realidade é que durante muito tempo o “bem” prevaleceu porque quem o defendia eram as forças dominantes a nível mundial. O Ocidente como bloco coeso conseguiu impor limites e travões a forças ditatoriais e regimes desumanos, não porque a nossa filosofia civilizacional é a correta, a que representa o “bem”, mas sim porque somos mais fortes a nível económico e militar, apenas por esta razão e mais nenhuma.
A forma como se ensina a história da Segunda Guerra Mundial nas escolas e através da cultura e entretenimento é um dos grandes responsáveis por este fenómeno. Conta-se a história de um conflito muito alargado e complexo de forma demasiado simplista, como se se tratasse de um conto para crianças. Havia o Hitler e os Nazis que eram muito maus e queriam exterminar o povo Judeu, e vieram a França, a Inglaterra e os Estados Unidos, que eram os bons da fita e, naturalmente, ganharam a guerra, porque é sempre assim que acontece nos filmes e contos infantis. É importante quando se fala da Segunda Guerra Mundial explicar que o “bem” venceu porque tinha mais força, as suas chefias políticas e militares foram mais hábeis e pela enorme coragem e sacrifício dos seus soldados e população civil. Não fosse por isso teriam ganho os Nazis e penso que não seja agradável imaginar como seria o mundo no seguimento desse desfecho. Daí temos de retirar uma lição fundamental: a força, o poder mandam tudo. Ao........
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