Perdidos e achados
Tenho passado horas a ver fotografias de prateleiras e cabides repletos de objectos e peças de roupa. A vida neste começo de século é este labirinto estúpido em que, sem sair de casa, podemos perder-nos até ficarmos tontos. Para nos perdermos, já não precisamos de movimento. Estar perdido não é consequência de se ter ido a algum lado, fazer alguma coisa, mas apenas um efeito colateral do aborrecimento ou do capricho. Talvez seja assim há séculos, mas agora confessamos as senhas da nossa desorientação à grande mente que nos vai indicando o nome das ruas onde havemos de nos perder, navegando horas a fio, nas galerias da internet. Usar um motor de busca electrónico para encontrar coisas perdidas é talvez a mais pleonástica das actividades. Que outra coisa é o motor de busca senão um monumento às coisas esquecidas — a maior secção alguma vez inventada de perdidos e achados — de que nos servimos para nos lembrarmos de que as esquecemos e para nos esquecermos enquanto procuramos por elas, figuras que somos, cada um de nós, utilizadores, desta amnésia irreparável e colectiva?
São salas e salas, um mar de guarda-chuvas, rios de casacos, caixas com carteiras, cachecóis,........
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