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Na Praça das Flores

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22.02.2025

António anda com o pai a vender cestos na rua, tem treze anos, idade para andar na escola, mas nunca foi à escola, sempre ajudou o pai na venda. O miúdo leva dois cestos, o pai leva três, um em cada mão e um às costas. Vão tão carregados, mas descem a Sant’Ana à Lapa tão depressa, parecem correr para apanhar o sol antes de o sol se pôr atrás da colina.
À chegada, Lisboa era este carrossel de estranhos, em que se encontrava mais próxima de pessoas que não conhecia que dos conhecidos. Andava à procura de irmãos. Fazia amigos de raspão. Sentava-se na esplanada a ver a rua, mais perto da sua imaginação do que dos gestos, mais próxima de si que dos outros.
Namorava as vidas alheias, em passeio, ou à janela. Parecia virada para fora, mas, na verdade, era só uma escritora à procura de um livro. Quantas vezes não é assim, e atrás dos sentimentos mais bonitos está um canibal, um vampiro?
A cidade não era um caça-medrosos, mas uma casa de........

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