Anos Verdes
‘Para quê fazer isto?’ ‘Para que serve?’ ‘A quem interessa?’ Desbaratei a juventude a questionar a minha própria inteligibilidade. De tão repetidas, estas perguntas engoliram-me, cabeça e espírito, numa espiral nauseante. Foram os melhores anos, foram os piores anos. Estudava, então, literatura. Perguntava-me, com uma dureza exacerbada a respeito da inconsequência da minha escolha, se o que lia ou escrevia faria a menor diferença, temendo que nada bastasse e que eu não bastava, então, ’para quê a leitura?’, ‘para quê escrever?’, ‘para quem isto?’, ‘porquê continuar?’ E, a haver progresso, ocorria no seio desse canal de perguntas obsidiantes.
Envolta por um cerco que eu mesma erguia, projectando um futuro que fosse o calar das indagações, continuava, mas em nome de quê? O horizonte da vida adulta parecia-me, à distância, a derradeira cura para a gangrena da dúvida. Para quê (pergunto-me hoje) me terei agastado tanto com os efeitos da minha singela diferença?
E hoje........
© Observador
