A maldição de António Lobo Antunes
Há algum tempo que queria ler As crónicas, de António Lobo Antunes, pelas quais o autor admitiu sentir um certo desprezo, olhando-as como o meio para atingir um fim: dinheiro. Li alguns dos seus livros, mas agora procurava silenciar todas aquelas vozes que pautam os romances (e que ao fim e ao cabo são a sua), na esperança de lhe conhecer a origem, como o terapeuta que procura as fundações para responder ao porquê de sermos o que somos. Ler uma crónica parece ser uma forma de espreitar o outro, e muitas vezes dá a impressão de que estamos a espiar mais o autor e menos as personagens, uma estratégia perfeita para desviar o olhar da nossa própria vida.
Houve um dia em que encontrei o livro à venda em segunda mão, numa plataforma de vendas online. Na descrição, lia-se “como novo” e, pelas fotografias, não era mentira. No entanto, o preço assinalado parecia pouco credível. Se o livro, novo, custava quase 30€ e ali estava a 5€, só podia tratar-se de uma pechincha ou de um futuro assalto com recurso a arma branca. Embora Lisboa seja uma cidade segura, é difícil não imaginar uma hipotética notícia na CMTV, um alerta com uma fotografia minha a........
© Observador
