E se a Europa olhasse para si própria?
Os efeitos da imposição de novas taxas aduaneiras sobre as importações nos Estados Unidos não são tão lineares quanto algumas previsões mais categóricas fazem crer. Bem sabemos que a teoria económica ensina que as restrições ao comércio internacional tendem a fazer diminuir a riqueza e o bem estar dos países envolvidos. Mas é preciso ter presente que as taxas anunciadas pela Administração norte-americana não são as únicas – e provavelmente nem as principais – restrições às trocas internacionais dos países europeus, incluindo naturalmente o caso de Portugal. Por isso, em vez das reacções de indignação e/ou de pânico, parece mais útil ponderar como podem aqueles custos ser compensados – provavelmente até mais do que compensados – pela redução significativa de outros.
Desde logo, há que ter em conta que as taxas sobre as importações têm sobre o seu preço um efeito semelhante ao da depreciação da taxa de câmbio, tornando-as mais caras em moeda local. Não têm, todavia, o efeito que tem a depreciação cambial de tornar as exportações dos Estados Unidos mais baratas em moeda externa. Pelo contrário, até podem ter o efeito contrário, caso o aumento do preço das importações americanas se reflicta no preço dos bens e serviços exportados. Ou seja, uma política cambial agressiva pode ser bastante mais gravosa para quem exporta para os Estados Unidos do que um aumento de taxas aduaneiras.
Ora, parece não ter havido igual preocupação com as violentas flutuações do dólar americano (USD) dos últimos anos. Se recuarmos ao período pós pandemia, de acordo com dados da OCDE, a taxa de câmbio real do Euro face ao USD (taxa nominal corrigida pelo diferencial de inflação entre a Zona Euro e os Estados Unidos) valorizou-se cerca de 26% entre o final de 2020 e Setembro de 2022. Seguiu-se alguma flutuação, mas no........
© Observador
