Cultura do cancelamento: confidencialidade nociva
Num passado ainda recente , era habitual ouvir-se alguém dizer «quem me dera ser mosca!» : isso passava-se quando a aspirante criatura desejava saber , clandestinamente, o que terceiros estavam entre si segredando .
Nos dias de hoje, nesta nossa sociedade transbordante de transparência , em que a tradicional intimidade e reserva doméstica se transferiram para a esfera e domínio público – seja através de programas audiovisuais, com os espectadores a acompanhar o quotidiano de um grupo de mulheres e homens ´vulgares de lineu` , ou por via das redes ditas sociais , sobretudo no universo das crianças e adolescentes -, fica a impressão de que a exclamação «quem me dera ser mosca !» já não faz sentido: tudo está disponível para todos em qualquer instante .
E ninguém quer estar ausente desse redemoinho de ideias e notícias .
Corrijo, quase ninguém . Em paralelo , têm surgido grupos que não estão interessados em participar nessa dança coletiva: esses agregados tribais distinguem-se pela sua forte inclinação exclusivista, e pela........
© Observador
