Capitalismo tecno-digital, uma perspetiva crítica
Capitalismo industrial, terciarização e financeirização do capitalismo, capitalismo tecno-digital, esta sequência leva-nos do Consenso de Washington até ao consenso de Sillicon Valley, uma transição ainda em curso e que nos revela, desde já, algumas características estruturais fundamentais desta última fase que, agora, passamos a analisar.
Da ideologia neoliberal dos anos oitenta, na sua essência feita de liberalização e redução do papel do Estado, o chamado consenso de Washington, em conjunto com o unilateralismo americano dos anos noventa, até à santa aliança entre as Big Tech e os Big Funds na viragem do século, uma ideologia que eu aqui designo de consenso de Sillicon Valley. Os tópicos que se seguem são uma primeira abordagem crítica deste consenso de Sillicon Valley.
A chamada mundialização feliz (Minc, 1999) baseada na deslocalização geográfica das principais cadeias de valor globais, provocou uma metamorfose na natureza e hierarquia do capital que se transmutou de capital produtivo em capital financeiro e de risco, ao mesmo tempo que, para evitar a queda dos lucros, se observava a concentração e oligopolização das principais atividades económicas.
O ecossistema tecno-digital de Sillicon Valley, apoiado pelas sociedades de capital de risco e os grandes institutos de investigação, criou um ambiente favorável ao solucionismo tecnológico (Morosov, 2014) e à incubação e aceleração do movimento start-up enquanto, ao mesmo tempo, assistíamos a uma fusão entre a cloud e a crowd, isto é, a uma espécie de migração dos utilizadores para a colónia digital em que a internet se converteu.
As redes, as plataformas e suas aplicações são a infraestrutura crítica da nova fase do capitalismo tecno-digital que aí se desenrola sob a forma dos chamados mercados biface ou........© Observador
