Roupa em segunda mão: que “calamidade” é esta?
Os moçambicanos vestem-se sobretudo com roupa em segunda mão. Tal como em vários outros países da África subsaariana, o vestuário usado tem lugar proeminente na economia e na sociedade. Quando a Europa se inquieta com o impacto ambiental dos têxteis usados que exporta, um estudo realizado em Moçambique vem questionar pressupostos, revelando um setor vibrante e largamente desconhecido.
Em Moçambique, a roupa em segunda mão – que se vende abundantemente nas ruas e mercados – é chamada “calamidade”. A alcunha surgiu durante a guerra civil (1977-1992), quando cargas de roupa usada oriunda do Norte global começaram a entrar no país para aliviar a “calamidade”, ou seja, a situação de gravíssimas carências materiais exacerbadas pelo conflito. Hoje, a roupa de segunda mão é distribuída em Moçambique através de circuitos comerciais que nada têm que ver com ajuda humanitária, mas a “calamidade” ficou. E ocupa um lugar importante na economia e sociedade moçambicanas.
O estudo “Situação atual do mercado de vestuário em segunda mão em Moçambique: Oportunidades e Desafios”, publicado em março deste ano, foi o primeiro no país a tentar compreender e quantificar a relevância socioeconómica deste setor. Ficámos a saber que 85% dos moçambicanos recorrem primordialmente à roupa em segunda mão para satisfazerem as suas necessidades de vestuário. As atividades ligadas à importação, processamento e distribuição de roupa usada sustentam 191 mil empregos, o que representa 7% dos empregos totais nos serviços. Neste que é um dos países mais pobres do mundo, a roupa em segunda mão é vetor de acesso ao vestuário (pelos preços baixos) e ao mercado de trabalho (ainda que falemos sobretudo........
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