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Totobola de segunda-feira, ou as naifas de Ockham

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23.05.2025

Diz o princípio da navalha de Ockham que a solução mais simples é, normalmente, a verdadeira. O seu autor, o frade Guilherme de Ockham, viveu no Surrey, Inglaterra, na Baixa Idade Média, mas ter-se-ia dado bem no Portugal contemporâneo, onde um desporto, muito compatível com a sua teoria, continua a ser praticado com apaixonante entusiasmo: o totobola de segunda-feira. Consiste em prever tudo o que aconteceu depois de ter acontecido. Nem o professor Emmet Brown, de “O Regresso ao Futuro”, desdenharia tal proeza. “Great Scott!”, exclamaria, antes de se meter no DeLorean e pirar para algures bem longe daqui.

Em semana pós-eleições, o jogo tem sido inteiramente dedicado ao tema: “estava-se mesmo a ver”. O que se segue é uma espécie de concurso de tiro ao alvo ou saltos para a água em que, cada um, à vez, tenta disparar a explicação mais rápida, mais simples e mais terraplanante para que um partido dito de extrema-direita tenha provavelmente acabado de se tornar líder da oposição em Portugal. Observemos algumas.

Teoria n.º 1: a culpa é do povo. É uma teoria, ironicamente, muito popular, mas bastante falha do ponto de vista lógico. Falta-lhe consistência. Implica que o povo ora seja livre, inteligente, soberano e democrata quando vota de acordo com os nossos gostos, ora estúpido, burro, ignorante e facilmente manipulável quando vota contra. Habitualmente, é acompanhada de declarações de repugnância pelo seu próprio país, frequentemente saídas das bocas das mais sofisticadas criaturas ditas de esquerda, e vontade de emigrar, não se sabe bem para onde, uma vez que fenómenos similares abundam por toda a parte.

Teoria nº 2: a culpa é da comunicação social (subentenda-se: que “lhes” dá atenção). A comunicação social não deve ser desresponsabilizada, mas é o caso clássico de se querer matar o mensageiro que se limitou a transmitir a mensagem; culpar, digamos, o senhor dos CTT pelas más notícias que acabamos de receber naquele aviso do fisco. Além de que ter uma comunicação social que dá atenção às oposições, em vez de uma que só transmita a........

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