O móvel é eterno enquanto dura
Qualquer coisa no começo do Verão atira o cronista da urgência dos assuntos do dia para a sombra dos temas de sempre. Talvez não seja do calor; algo semelhante acontece ali por volta do Natal – terá a ver, supõe, com a repetição dos rituais anuais que nos devolvem, momentaneamente, a imagem do todo, o sentimento da vida enquanto corrida de fundo. O regresso à roupa da estação, à praia do ano anterior, aos truques para tentar fugir às noites de sufoco mal dormido, os planos que elaboramos, durante dois épicos meses de antecedência, para duas fugazes semanas de férias, avistadas já no horizonte como estranho ómega da existência. E nisto, neste processo de desfocar o olhar do que se passa para o pôr no que fica, volta a demorar-se numa campanha publicitária com poucos meses: “Quem dera que o amor durasse tanto como um móvel Ikea”.
É uma campanha brilhante. Encomendada à agência criativa Uzina para assinalar os 20 anos da Ikea em Portugal, põe a marca a olhar para as suas potenciais fragilidades com frontalidade e humor, enquanto a coloca maravilhosamente num lugar sentimental no centro da vida do consumidor. Como quem diz: ok, nós sabemos que não fazemos os móveis mais resistentes do mundo – não é isso que vendem; vendem design a preço baixo – mas, mesmo assim,........
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