O fim da página em branco
Esta semana, o Word ofereceu-me pela primeira vez os seus serviços de inteligência artificial. A Microsoft chama-lhe Copilot e não é preciso ir à procura dele, activá-lo, solicitá-lo; basta abrir um ficheiro novo e, em vez do habitual cursor a piscar sobre o intemporal atrevimento da página em branco, lemos agora as mensagens: “Descreva o que gostaria de escrever”, “o Copilot pode gerar um rascunho para ajudá-lo a começar”.
Já não se trata sequer de ir a um ChatGPT da vida pedir que gere um texto que, depois, se use, no todo ou em parte, mais ou menos disfarçadamente, como nosso; trata-se do próprio instrumento básico de escrita, provavelmente o software mais usado do mundo para a tarefa, que imediatamente integra a dita inteligência artificial generativa e a coloca ao nosso dispor para fazer o trabalho por nós.
Sim, claro que pode ser usado só como um auxiliar, para fazer um “rascunho”, como diz, para nos “ajudar a começar”. Não é nada disso que vai acontecer. É evidente que, muito em breve, miúdo algum do mundo entregará um só trabalho de casa escrito por ele. Aliás, que digo? Neste momento, à velocidade a que as coisas acontecem, provavelmente já o último miúdo do mundo tentou fazê-lo há dois dias e foi achincalhado pelos colegas por isso. Em breve, os miúdos vão deixar de ser capazes de escrever um só parágrafo da sua cabeça; poderão não ser todos, mas será a maioria, aquela que não crescer em meios onde as famílias........
© Observador
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