O ex perfeito
Eram três ou quatro mulheres nos seus trintas e quê, a conversar na mesa de trás. Sábado tranquilo no bairro, almoço tardio num café no mais vazio, um indivíduo a fazer o milionésimo esforço de tentar escrever qualquer coisa que faça falta à literatura e, mais uma vez, a falhar clamorosamente. Impossível não ouvir. Falavam de um tipo qualquer com interesse, enlevo, fascínio. “Não o viram na televisão”, pergunta uma, “com fulana”? E este ouvinte mais ou menos involuntário, na sua limitada cultura cor-de-rosa, dizendo para os seus botões e mais os do computador: “Então, mas esses já não estavam separados há uma data de tempo?” E logo as outras acodem: “É incrível… Como ele a trata… É o ‘ex’ perfeito!” E, de repente, em coro, suspiram. Juro.
Seguiu-se a lista de atributos que sustentavam o caso: que ele sim, dava espaço à ex, não a chateava, respeitava-a, sorria-lhe com carinho, continuavam a falar, continuavam amigos, até a dar entrevistas juntos, a gerir tranquilamente a guarda dos miúdos, a ajudarem-se no que fosse preciso. Estavam lá um para o outro, continuavam a ser das suas “pessoas preferidas”, não quereriam mais ninguém para pai nem mãe dos seus filhos (deste o último ponto final que o cronista está a improvisar. Não........
© Observador
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