Caso BES - o crime e a pena
Foram precisos dez anos e 12 minutos. Dez anos desde o colapso do Banco Espírito Santo até ao início do julgamento; 12 minutos para Ricardo Salgado percorrer as poucas dezenas de metros do carro até à porta do tribunal. 12 minutos que foram um estranho compacto da tragicomédia humana.
De um lado, o outrora todo-poderoso banqueiro, transformado pela doença de Alzheimer numa sombra dele mesmo. Magro, frágil, marcas que não lhe conhecíamos no rosto, um fato vazio do homem de ar seguro e, porque não dizê-lo, soberbo, que, durante décadas, marcou a vida pública nacional, caminhando agora com dificuldade, apoiado pela mulher e um dos advogados, entre a turba de jornalistas, populares, forças de segurança e chapéus-de-chuva, num dia que poucos cenógrafos teriam escolhido pintar de outra forma: plúmbeo, soturno, sem esperança. Do outro, alguns dos que perderam as poupanças de uma vida nas labirínticas operações do Banco Espírito Santos. Uns gritando de viva-voz, outros mais discretos em nome de pais e avós que já não têm condições físicas de se deslocar ali, e até um grupo de figurantes contratados, mascarados de preto, ao redor de uma carrinha funerária, em representação dos 104 lesados que já morreram sem chegar a ver um cêntimo do dinheiro que um dia confiaram ao banco de Ricardo Salgado.
Uma hora depois, tudo estaria já terminado.........
© Observador
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