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A importância de ser Snob

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03.10.2024

Ainda domingo precisei do Snob, mas, lembrando-me de que, nos últimos tempos, fechava àquele dia da semana e já não apenas uma vez por ano, no Natal, e não tanto pelo menino Jesus, mas por ser aniversário do senhor Albino, lá confirmei a tempo no moderníssimo Google a suspeita e evitei dar com o nariz na porta. (Perdoem a longa frase de abertura, mas, no Snob, as conversas foram sempre assim: longas, múltiplas.) Fico agora a saber por uma crónica da Ana Sá Lopes que fechara, precisamente, na véspera e sinto o mesmo golpe no estômago que na notícia da morte de um amigo. Aquela amarguíssima sensação de chegar tarde. Bati com o nariz na porta, sim, senhores. O definitivo bater com o nariz na porta.

Depois de descobrir o Snob, não precisei de descobrir mais bar nenhum. Não é que não tenha descoberto – mas já não precisava; foi-se a urgência de saber de lugares novos, do que estava ou não dar, de ter disponível o mapa mental de prontos-socorros para onde ir, àquele dia, àquela hora, tomar qualquer coisa, beber qualquer coisa. O Snob estava aberto todos os dias, a todas as horas que importam, servia refeições até tarde, tinha o melhor bife da cidade, whiskies turfados, standards jazz e Bruce para-todos-os-Springsteen a tocar baixinho, mesas e candeeiros feitos para conversar e a possibilidade sempre mágica de acabarmos a noite noutra mesa qualquer, à luz de outro candeeiro, cooptados para a conversa de outras pessoas, que não esperávamos encontrar. E quando não houvesse ninguém, também era um lugar para se estar sozinho, com o retrato de Humphrey Bogart a olhar-nos com amizade do alto de todos os “gin joints” de todas as cidades, de todo o mundo.

Sorte a minha, descobri-o muito cedo. Não me lembro da primeira vez que lá fui nem exactamente de quem me levou, porque muitos amores, mais do que acontecerem à primeira vista, acontecem mesmo é quando acontecem mais à segunda, e à terceira, e por aí afora. Ali fui um bom quarto de século, porque uma pessoa já vai tendo idade para dizer coisas destas. Uma vez que mudei de casa, a proximidade do Snob foi........

© Observador


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