Uma bolha de pelintras
Na semana passada, os especialistas já haviam descoberto que o eleitorado do continente e ilhas é impreparado e racista. Agora os especialistas confirmaram que os portugueses que moram e votam no estrangeiro também são impreparados e racistas. Num ápice, as multidões de jovens promissores e geniais escorraçadas um dia por Pedro Passos Coelho transformaram-se em burgessos que atribuem mais dois deputados ao Chega. Um especialista, comentador da bola que em tempos o PS naturalmente resgatou para a “cultura”, traçou com densidade o perfil social, académico e profissional dos emigrantes que votam no Chega: são boçais e desqualificados. Outros especialistas não foram tão suaves e desataram mesmo a questionar a pertinência de os emigrantes, com “e”, esses “chupistas” (cito um especialista amador, cônjuge de uma especialista profissional) que não descontam cá dentro e “parasitam” Estados lá fora, poderem continuar a votar.
É interessante notar que a súbita sanha contra os emigrantes com “e” está normalmente a cargo dos maiores entusiastas ao acolhimento de imigrantes com “i”. Não é por nada, mas começo a ter a impressão de que o problema dos especialistas é com os portugueses “nativos” em geral, residam eles no Cacém ou em Carcassonne – ou pelo menos com os portugueses........
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