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Trump: corresponderá essa macroeconomia à verdade?

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22.04.2025

Os dados estatísticos não corroboram uma parte importante das bases do Trumpismo.

Primeiro, os EUA continuam a ser o bloco com maior rendimento per capita do mundo, com maior nível tecnológico, e com elevada taxa de crescimento do PIB entre os países desenvolvidos. Portanto, é falso que a sua riqueza tenha sido apropriada pelo Resto do Mundo.

Segundo, o comércio internacional tem beneficiado o País: (i) ao permitir o país especializar-se em indústrias e serviços de maior valor acrescentado e produtividade, (ii) ao mesmo tempo que os seus consumidores beneficiam de produtos importados a preços mais baixos do que se fossem produzidos internamente, e de maior variedade, (iii) ao beneficiar de uma maior concorrência internacional às suas empresas, o que leva a maior inovação, e (iv) ao ter acesso a recursos naturais que precisa e não tem. Assim, o comércio internacional gera mais emprego e leva a um maior crescimento. Há diversos estudos a corroborar o impacto positivo do comércio sobre o PIB e emprego. Mais ainda, as razões de troca com o Resto do Mundo têm sido largamente favoráveis aos EUA desde 1990.

Terceiro, o estatuto de moeda de reserva do dólar permite ao País ter um défice substancial na sua balança de pagamentos (privilégio excecional), apesar de aumentar o montante dos ativos (ações e obrigações) propriedade dos estrangeiros. Como não há ativos denominados noutras moedas que sejam facilmente substitutos, não é de esperar grandes alterações no apetite pelos ativos em dólares, pelo que este privilégio se deve manter. Também é falso que tenha havido uma apreciação do dólar no longo prazo. Como sempre depende do horizonte temporal de análise.

Quarto, o défice externo da balança corrente é devido, em grande parte, ao elevado défice orçamental, fazendo crescer o peso da dívida pública a níveis bastante elevados.

Vejamos alguns dados que sustentam esta investigação. No ensaio seguinte veremos os fatores da análise do Trumpismo em que a evidência lhe é favorável.

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Trump afirma que os EUA foram “explorados” pelo Resto do Mundo desde a II Guerra Mundial. “America is being ripped off. We’re not going to have an America in 10 years if it keeps going like this. We’re a debtor nation, and we have to tax, we have to tariff, we have to protect this country. And nobody’s doing it,” (entrevista à ABC News [1]). They have “Taken our jobs, taken our wealth… and sometimes friend have taken more than foe”. Desde os acordos comerciais às regras de segurança da NATO, Trump sustenta que os EUA têm tido um baixo retorno. E que os EUA não têm tido reconhecimento pelos recursos e pela proteção de defesa e política que têm dado ao Mundo …

Esta afirmação não tem fundamento nos factos. Os EUA continuam a manter o maior PIB per capita dos grandes blocos económicos mundiais. O bloco económico em segundo lugar, a EU, tem convergido lentamente até 2019 (74% do PIB per capita, em PPC – Paridade de Poder de Compra – dos EUA). E temos assistido à convergência espetacular da China: de 4% em 1990 para 30% em 2023 (Figura 1 e Quadro 1). Em 2023, o PIB per capita dos EUA era de 82,7 mil dólares por pessoa, contra 58,9 da UE e 24,5 da China.

Os EUA têm mantido uma taxa de crescimento do PIB e da produtividade superior à da UE nas últimas duas décadas, embora uma parte desta vantagem tenha resultado do maior crescimento populacional e das horas trabalhadas. Também em termos tecnológicos, os........

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