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O Papa e a coragem de atravessar a tempestade

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23.04.2025

Ortega y Gasset escreveu: “Eu sou eu e as minhas circunstâncias; se não as salvar a elas, não me salvo a mim.” Esta citação não é apenas uma reflexão filosófica: é um imperativo ético e político. Serve de bússola a quem, em tempos difíceis, se recusa a fechar os olhos ao mundo que o rodeia. O Papa Francisco foi, desde o início do seu pontificado, um homem consciente das suas circunstâncias. Compreendeu os desafios do nosso tempo — a solidão crescente, o fosso entre ricos e pobres, as migrações forçadas, as alterações climáticas, o enfraquecimento da fé no Ocidente, a polarização política — e procurou enfrentá-los com lucidez, compaixão e coragem.

Francisco não foi um Papa de comodidades nem de consensos fáceis. Trouxe desconforto a muitos sectores — dentro e fora da Igreja — por insistir numa fé viva, próxima dos marginalizados, despojada de ostentação, virada para o essencial. Fê-lo com gestos pequenos e grandes, com palavras e silêncios, com visitas inesperadas, com abraços sinceros. Fê-lo, sobretudo, com autenticidade. Talvez por isso tenha sido tão amado por muitos e tão incompreendido por outros.

Ficará para sempre gravada na minha memória — e, creio, na de milhões — a imagem solene do Papa Francisco, no........

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