A cortina de silício: lições de Auschwitz
A ocultação da verdade não é uma invenção moderna. Contudo, as formas de a disfarçar evoluíram drasticamente ao longo dos séculos. No início do século XX, a censura directa era a arma preferida dos regimes autoritários e das instituições que pretendiam controlar o discurso público. Silenciavam-se vozes incómodas, eliminavam-se livros, artigos e discursos que desafiavam o status quo. A censura era visível, palpável e, em muitos casos, até reconhecida como tal.
Contudo, com a chegada da era digital, assistimos a uma transformação desta estratégia. A censura directa deu lugar a uma forma mais insidiosa e difícil de combater: a desinformação através do excesso de informação. O controlo da verdade deixou de depender do silêncio, passando a ser exercido através do barulho. Hoje, não é preciso apagar uma notícia para ocultar a realidade — basta soterrá-la num mar imenso composto de meias-verdades, rumores e manchetes sensacionalistas.
Se é inegável que o digital trouxe benefícios extraordinários — acesso rápido à informação, democratização do conhecimento e vozes activas no debate público — também é verdade que abriu as portas a um fluxo incessante de desinformação capaz de ameaçar a própria noção de verdade. As redes sociais, através dos seus algoritmos e bots de comunicação, tornaram-se arenas onde frequentemente as opiniões se misturam e são........
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