O último dos moicanos
Há mais de 40 anos, na República Democrática Alemã onde residi durante alguns meses por razões de saúde, tentei comprar um gorro que avistara, em pleno nevão, na montra de uma chapelaria. O funcionário não o pôde vender porque era o único artigo que lhe restava e, sem ele, a loja do Estado que a Câmara de Rostock insistia em manter deixaria de existir enquanto última chapelaria da cidade.
Pode ser que, no futuro, também entre nós alguém se lembre de manter lojas abertas entregando-lhes dinheiros públicos para fingirem que funcionam. Isto porque o encerramento do comércio tradicional, em particular de livrarias, causa sempre justificada comoção. O papel destes estabelecimentos comerciais não se cinge à atividade económica: há o fator identitário e a convivialidade que se perdem, sem substitutos óbvios. Este outono das cidades, em que os pontos de encontro e os hábitos, usos e costumes que lhes estão........
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