Resplendores
A recente venda em leilão, em Lyon, de Descansando durante a fuga para o Egito (1824), de Domingos Sequeira (1768-1837), catalisou a já minha intenção de dedicar uma coluna ao pintor britânico J. M. William Turner (1775-1851), de quem, em abril, se assinalam os 250 anos do nascimento.
Perguntarão, e bem, por que razão isso apressou a minha escrita. Respondo: por todas! Para além de terem vivido maioritariamente no mesmo período e sido os maiores pintores dos seus países no século XIX – ou até, talvez, de sempre – foram ambos exímios no tratamento da luz. A isso soma-se o facto de serem paradigmáticos do desenvolvimento das nações que os viram nascer. Enquanto os céus de Turner são palco das forças da Natureza em ação e dos fumos dos engenhos a vapor, os de Sequeira encontram-se povoados por anjos e santinhos. Enquanto os clarões e os breus de Turner refletem o esplendor científico e tecnológico de Inglaterra, com a Revolução Industrial em curso, as luminosidades de Sequeira, místicas e transcendentais, denunciam o atraso e a obscuridade de Portugal, que, como Nuno Palma refere em As Causas do Atraso Português (Dom Quixote, 2023), em meados........
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