O fotógrafo profeta
Num mundo saturado de imagens fugazes, há fotógrafos que, desvelando realidades ignoradas e, por vezes, intuindo o que está por vir – como se as suas objetivas tivessem algo de oracular – transcendem o instantâneo. O brasileiro Sebastião Salgado (1944–2025), recentemente falecido, foi um desses raros casos. Com uma obra marcada por uma profunda consciência social, mais do que fotógrafo documental ou fotojornalista, revelou-se um profeta visual que, com um apuro estético incomum, usou a fotografia como instrumento de denúncia e sensibilização. Dos países devastados por guerras, genocídios e crises humanitárias às paisagens ainda intactas do planeta, as suas imagens a preto e branco – exemplarmente tipificadas por séries como Êxodos e Génesis – são autênticas parábolas contemporâneas: belas, brutais e profundamente humanas, constituem um apelo claro à urgência da compaixão por quem sofre e à assunção de responsabilidade face às crises sociais e ambientais do nosso tempo.
Em Gold, documentou a ‘febre do ouro’ na Serra Pelada, na Amazónia brasileira, onde, entre 1980 e 1986,........
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