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O poder político-mediático não percebeu ainda nada

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21.05.2025

O que se passou em Portugal no dia 18 de Maio não foi apenas mais uma eleição. Foi o prenúncio de uma ruptura. Um autêntico tsunami político. Só foi surpreendente para quem continua a formar a sua opinião através da televisão, que se tornou, há muito, uma extensão do aparelho ideológico do sistema. Como poderia dizer Millôr Fernandes, quem se informa pela televisão ou pelos grandes meios de comunicação anda muito mal informado.

Nesse domingo, num restaurante com o televisor ligado em volume elevado, escutam-se os ecos da inquietação oficial. “Assustador”, dizem os comentadores sobre os resultados do Chega. Na mesa ao lado, dois homens — um jovem e outro de meia-idade — trocam impressões com sobriedade: “Assustador é o nosso ordenado, comparado com o de países como a Espanha; o preço da habitação, da gasolina, o estado do SNS, a impunidade com que tantos políticos do PS e do PSD se servem do poder há décadas, protegendo os seus próprios grupos…”.

O contraste é revelador. Enquanto os comentadores do sistema se apressam a impor a sua leitura moralizante e ideológica, o país real reage com lucidez pragmática. O sistema político-mediático que deu origem a forças fora do seu controlo continua sem compreender o que aconteceu. E menos ainda o que está para acontecer.

O Declínio da Esquerda e o Colapso da Intermediação Mediática

Há duas tendências claras, sustentadas por factos e não meras percepções.
Primeiro, a esquerda tradicional, sobretudo o centro-esquerda, está em acentuado declínio e revela uma incapacidade profunda de compreender a época em que vivemos.
Segundo, os média convencionais, em larga medida dependentes da estrutura económica e simbólica do poder instituído, alinham-se com uma esquerda encerrada numa bolha ideológica autorreferencial, desligada das condições reais da população.

Essa esquerda, culturalmente dominante mas socialmente........

© Jornal SOL