A nova banalização do mal: o aborto livre até aos 9 meses
O conto “O Pássaro Amarelo”, de G.K. Chesterton, apresenta-nos uma parábola contundente sobre os perigos de uma liberdade entendida sem limites ou restrições, ou seja, o ideal progressista ocidental do século XXI. A personagem central, o Professor Ivanov, assume uma visão radical: tudo o que não se enquadra na sua perspectiva pessoal do mundo deve ser rejeitado, desmontado ou destruído. Ivanov rejeita as normas tradicionais, a moralidade comum e as obrigações sociais que estruturam a convivência humana. Para ele, a religião não passa de superstição, a ética é puramente relativa e a vida humana é um mero objeto para experiências intelectuais ou científicas. Esta obsessão pela liberdade absoluta conduz a uma sequência inexorável de destruições, que culmina na sua alienação mental e moral.
Em nome dessa falsa liberdade, Ivanov destrói sistematicamente tudo o que encontra à sua volta: um aquário onde os peixes viviam livres, a casa que lhe foi oferecida para habitar e até a própria abóbada celeste, símbolo do mistério, da transcendência e do sagrado. Esta recusa em reconhecer sentimentos fundamentais como a culpa, a compaixão e a humildade demonstra a sua perda da noção da realidade comum e da condição humana.
A sucessão de destruições, que representa a concretização extrema de uma liberdade sem limites, espelha-se no seu percurso: primeiro destrói os outros, depois tudo o que o rodeia e, por fim, destrói a si mesmo. Ao postular uma liberdade desvinculada do reconhecimento do outro e da dimensão ética, o homem abdica da sua humanidade e condena-se à autodestruição.
Este conto, para além de uma crítica literária, pode ser interpretado como uma metáfora esclarecedora para debates contemporâneos, como a liberalização absoluta do aborto. Tal como Ivanov, que vê a liberdade como um poder absoluto sobre a realidade e a vida, a defesa radical da autonomia individual pode levar à supressão de qualquer limite ético ou responsabilidade coletiva, colocando em causa o valor intrínseco da vida humana.
Quando o discurso da liberdade ignora a existência do outro,........
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