O Matuto e os Jacarandás
O Matuto gosta dos jacarandás. Aliás, como qualquer Lisboeta. Ora, aqui na ‘Casa das Pontes’ as flores são sagradas. A gentil esposa do Matuto, Dona Sirlei, zela pelo jardim com a dedicação de um monge Tibetano. E a passarada agradece. Especialmente os beija-flor que todas as manhãs fazem os seus vôos picados sobre as flores predilectas, bebericando do bebedouro que Dona Sirlei disponibiliza. Sempre sacudindo as asinhas.
Essa veneração não parece habitar nos Paços do Conselho de Lisboa. Pelo contrário, os laivos assassinos marcham até à 5 de Outubro com o intuito de “abater” jacarandás. A Joana Amaral Dias escreve com mestria sobre o tema aqui, citando Eugénio de Andrade: “os jacarandás anunciam o verão e ladeiam os portões do paraíso”. O Matuto chora a (possível) morte dos jacarandás porque partilha do sentimento que tomou conta da alma da Clara Pinto Correia quando escreveu; “Deixem tudo o que tiverem nas mãos, venham à janela, corações ao alto, alegrai-vos e exultai. Acordai, povos que dormis, vede que já de violeta se tingiu a cidade em serenas explosões. Abri as portas das casas e das almas, estacai pelas ruas e respirai fundo”.1 Este........
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