O Matuto e o Jeitinho Brasileiro
O Matuto está familiarizado com o “jeitinho Brasileiro”. Aqui na ‘Casa das Pontes’ o jeitinho funciona para resolver tudo: a infiltração de água, o motor recalcitrante da piscina, a passarada teimosa, a fuga de gás, a porta torta e até o calor insuportável.
Há dias o Matuto foi tratar de um papel qualquer num balcão público. Tinha senha, documento, paciência e “chapéu na mão”. Esperou. E esperou. E desesperou. E continuava a esperar, quando um rapaz lhe disse com naturalidade tropical:
— Isso aí não anda sem jeitinho, sénhô. Tem que conversar… O Matuto arregalou os olhos. Conversar ele sabia. Mas ali, “conversar” vinha com piscadela, cotovelo e um certo ar de quem troca favores no escuro. Não era suborno, que isso é feio — era só um ‘jeitinho’.
Neste país que tão generosamente acolheu o Matuto no seu seio o pessoal estaciona onde não deve, mas deixa um bilhete a pedir “compreensão”; ‘arrumam-se’ carteirinhas falsas para entradas grátis; compram-se atestados para faltar ao trabalho; e até se arranjam ímanes para impedir o contador da electricidade, de rodar. Tudo com um sorriso maroto e boa disposição. É a arte de dobrar a regra sem quebrá-la —........
© Jornal SOL
