O Matuto e o Banco de Momentos
É curiosa a forma como António Lobo Antunes, numa das suas crónicas mais geniais, fala num “banco de momentos”. Depois de mencionar vários momentos que o marcaram ele afirma: “Deviam poder guardar-se estes momentos no banco, a render juros. E receber o extracto ao fim do mês: em lugar do dinheiro um clarinete à chuva, uma onda, a boina de Alfonsina Storni e o cheiro da erva molhada, o pobre Caruso a tentar soltar-se do disco. Se o gestor de conta fosse esperto informava-me «este mês tem mais uma onda», «até ao fim do mês espero conseguir-lhe dois clarinetes», ou «em seis meses, tal como os mercados estão, o tal Merimé não vai desiludir a senhora».1 Naturalmente que o Matuto também gostaria que os seus momentos rendessem juros.
Tal como o António Lobo Antunes, o Matuto não está nem aí com o que come, ou onde mora, ou o que veste. O Matuto é despido de vaidades. Mas há coisas que mexem com o Matuto. Momentos fugidios, mas intensos. Um Outono na cidade de Viseu. Local: Parque........
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