A hipocrisa política e o caso de Francisco, homem bom
O Papa Francisco constitui um dos raros casos, no nosso tempo, de coerência entre pensamento, palavra e ação. Não vou fazer o elenco dos seus múltiplos gestos simbólicos e efetivos (da sua viagem a Lampedusa, à aceitação do amor entre pessoas do mesmo sexo, da coragem em enfrentar os interesses do banco do Vaticano, à condenação da pedofilia nas fileiras da igreja, ou a condenação do neoliberalismo e da ‘economia que mata’). Quero tão-só observar a hipocrisia dos sucessivos elogios fúnebres feitos por políticos. Todos se disseram tocados pelo exemplo de humanidade de Francisco. Vemos, ouvimos e lemos – não podemos ignorar a hipocrisia dos atuais «capitalistas das palavras» (Sophia de Mello Breyner).
Para Trump, o Papa deixou os católicos muito tristes e os católicos, disse, foram uma forte base de apoio ao seu MAGA. Autocrata e racista, reacionário e defensor dos oligarcas, Trump moveu uma das peças do seu tabuleiro de interesses: bom Papa seria Raymond Burke, um apoiante de Trump, Presidente do Conselho Consultivo do Instituto Dignitatis Humanae, organização católica de direita, próxima de Steve Bannon. Burke defende a política de imigração de Trump. Francisco promoveu o diálogo intercultural e religioso… Por isso Francisco foi acusado de ser um Papa «marxista», quando, na verdade, humanismo e humanidade foram as........
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