Dinâmica social, fraude e corrupção – o exemplo da Dinamarca
A reflexão que trago hoje resulta da vivência pessoal que tive esta semana na Dinamarca, país que, como é sabido, surge quase todos os anos com as menores taxas de corrupção percebida no mundo, como mostram os rankings anualmente divulgados pela Transparência Internacional ou pelo Eurobarómetro.
Claro que uma semana de contacto com as pessoas e a observação de alguns traços dos seus modos de vida não são elementos suficientemente sólidos para aferir grandes conclusões sobre a razão de ser dessas perceções, e sobretudo porque possam ser sociedades efetivamente com menor presença da corrupção, até porque, pela sua natureza, estamos em presença de um problema tendencialmente oculto.
As ciências sociais em geral, e a antropologia em particular, dedicam-se ao estudo das circunstâncias que modelam as relações entre os humanos e o espaço que habitam, como se adaptam a esse espaço e criam modelos de organização social, económica, política e jurídica, e como edificam e partilham uma cultura comum que lhes permite comunicar e desenvolver laços de fraternidade.
Estas soluções, independentemente da configuração que tenham, apresentam sempre uma natureza frágil, na medida em que têm de ser permanentemente suportadas, validadas, aprofundadas e reformuladas por todos os indivíduos, em dinâmicas de maior ou menor cooperação e coesão social, mas nunca em soluções acabadas ou perfeitas – o que é uma sociedade ou uma cultura perfeita?, ou, indo mais longe, o que é um indivíduo perfeito, sobretudo em termos sociais e culturais?
Nestas dinâmicas, que se se reforçam e remodelam em permanência, em resultado do pulsar próprio que as caracteriza, os indivíduos e as suas posturas são elementos centrais. Eles, nomeadamente em resultado dos denominados processos de socialização e aculturação, e também das suas expectativas e circunstâncias de vida, apresentam-se e adotam comportamentos mais ou menos conformados com as regras, independentemente de estas serem escritas ou apenas hábitos culturais e sociais.
E, deste ponto de vista, o mais natural em qualquer sociedade é que alguns indivíduos, isolados ou organizados em grupos mais ou menos extensos, movidos por fatores diversos, nomeadamente pelos seus interesses, possam adotar opções de vida que se afastem ou contrariem, por vezes de forma muito divergente, a regularidade das normas e das expectativas sociais.
Quando estas divergências comportamentais assumem uma dinâmica própria e se tornam numa espécie de tendência, podemos estar perante processos anómicos de mudança da ordem social e dos valores culturais, no sentido indicado por autores como Émile Durkheim e Robert Merton
E será neste enquadramento que falamos em processos desviantes de fraude, e, sobretudo na gestão do Estado e das suas estruturas, de corrupção.
Deste ponto de vista, pode assumir-se que não existem sociedades imunes a estes problemas. Por muitos e bons controlos que existam, nomeadamente quanto à prevenção e controlo da fraude e da corrupção nas sociedades e nas organizações, a possibilidade da existência de situações desviantes nunca é nula. A possibilidade de termos a presença de algum indivíduo menos alinhado com os propósitos da organização está – e........
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