Memórias de Alexandre
Mulheres nas primeiras filas, homens nas demais, ordenados alfabeticamente, números à vista nos lugares que estivessem vazios …era um dispositivo disciplinar que servia bem um constante controlo de faltas que só cairia uns anos mais tarde, à custa de lutas e expulsões. Este sistema arcaico deu uma boa ajuda a que logo nos primeiros tempos do curso de direito viesse a travar conhecimento com alguns colegas que essa ordem impunha sentarem-se bem perto de mim. E assim conheci de perto, no ano lectivo de 1965/66, dois colegas que iniciavam o curso, como eu, mas o faziam, com mais do dobro da minha idade, por razões e em condições extraordinárias: Alexandre e Amílcar. Nos intervalos, nos corredores, esperando as provas orais, foram-me contando, ao longo do tempo, boa parte das suas histórias, com a prudência e a discrição que nesses tempos negros a experiência ditava.
Amílcar fora oficial do exército, estivera na Índia, participara na revolta da Sé, estivera preso em Elvas, conseguira voltar ao serviço, fora depois para África e as suas posições contra a guerra colonial conduziram-no a um Conselho Superior de Disciplina que o expulsou das Forças Armadas, despojando-o de quaisquer direitos, que recuperaria só depois do 25 de Abril (Amílcar........
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