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Que distância guarda nossa saudade

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31.07.2025

A morte de Preta Gil (1974-2025) não é apenas o fim de uma trajetória pública marcada pela música, pela força de uma voz que falava, com desassombro, de amor, liberdade e corpo. É também o ponto em que nos vemos diante de uma das contradições mais dolorosas de qualquer afeto verdadeiro: a luta para reter alguém ao nosso lado enquanto a vida — ou a morte — sussurra que é hora de soltar as mãos.

Preta enfrentou a mais terrível das doenças, como viveu os seus intensos 50 anos — com fé, com alegria, com o peito aberto para o amor. A coragem tão explícita nos palcos e nas entrevistas transbordou também nos corredores de hospitais, nos silêncios de exames, na esperança que não se rende mesmo quando o corpo se fragiliza. Deixa a lição do que é segurar uma pessoa pela mão com toda a força que o coração tem — e, ao mesmo tempo, aprender que amar, às vezes, é respirar fundo e abrir os dedos devagar.

É instintivo que insistamos na presença física de quem amamos. Mas a vida não se curva ao desejo de quem fica. Desprender-se é um ato tão duro quanto essencial. É, muitas vezes, um último........

© Correio Braziliense