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Na próxima vez em que encontrar um poeta

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Do a terra é redonda

1.

Na próxima vez em que encontrar um poeta, olhe-o por inteiro. Não lhe pergunte por que ele faltou a compromissos assumidos antes com você. Ele tem lá suas razões. Ele pode ter faltado ao encontro por algumas razões primárias, básicas, simples, como ganhar dinheiro para beber, comer, pagar contas e aluguel. Ele pode ter faltado por essas razões que todos alheios à poesia pensamos que os poetas não têm, não podem e nem devem ter.

Ele pode ter faltado ao encontro por razões até menos primárias. Como, por exemplo, um encanto súbito pelos olhos de uma jovem. Um copo de cerveja em uma conversa tão boa quanto inadiável. Ou até mesmo, imagine, por estar amargando uma dor por não conseguir aquela forma sonhada para um poema.

Por razões, em suma, estúpidas, idiotas, imbecis, que pessoas honrosas, sérias, práticas, desprezam porque não aparecem nas páginas do guinness, não geram notícias, nem fazem renda no fim do mês.

Na próxima vez em que encontrar um poeta, você pode no máximo sentir-se um igual a ele. Igual a um homem como somente outro homem pode ser. Por isso olhe-o bem com atenção. Você está diante de um espetáculo raro, talvez único, insuperável. Você está diante de um criador que antes de justificar um lugar no céu, justifica um lugar junto aos malditos.

Os mendigos, os párias, a quem ele se assemelha muitas vezes pelo estado em que se encontra. Os santos, os iluminados, de quem muitas vezes ele se aproxima pelas realidades que descobre. Os demônios, os diabos, os senhores das luzes dos infernos a quem muitas vezes eles se avizinham pela vida que levam. Os até mesmo os descaídos, os homens caídos em desgraça pela fraqueza, de quem eles se aproximam por empatia e semelhança. Na........

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